domingo, 27 de janeiro de 2013

Um Medo...


Ela me perseguiu e me prendeu novamente. Ontem estive acorrentado à ela e experimentei seu amargor. Eu tentava fugir, num barco trôpego de papel, mas ela estava lá, como uma âncora de chumbo, num oceano formado pelas gotas salgadas que saltavam de meus olhos antes que eu pudesse mergulhar na escuridão que me salvaria por alguns instantes, imergindo-me no inconsciente... Por mais que eu tenha tentado- e tente- ignorar, ela estava lá, ela sempre estará... Ela me disse isso ontem ao me perseguir.

Eu estava sozinho quando meu corpo sentiu os tormentos por aquele exame. Ainda que eu tenha te procurado, eu estive sozinho. Eu estive sozinho quando tive que procurar o caminho de volta, quando voltei... Continuei sozinho, quando almocei, quando joguei, quando escrevi... Sozinho. Enquanto esperava pelo que não aconteceu. Eu estive fraco... E só. E apesar de tudo eu me recusava a enxergar, até ela se revelar num medo.

A solidão me acompanhou em cada instante de ontem em que precisei de alguém. Depois de todo o dia sem vê-la, pude percebê-la refletida naquela sombra que passou correndo do meu lado, nas antenas que apontavam pra mim, na casca marrom que a recobria... Mas, sobretudo no pavor que ela me representa... Ela ficou na minha frente, enquanto encarava-me... Seguia meus movimentos... Mesmo centenas de vezes menor seu medo frente à mim parecia ser o mesmo que o meu. Ela estava sozinha frente à seu medo, e mostrou-me que, eu também estava. Pedir ajuda foi inútil... Mais pra ela que pra mim... Minha vantagem foi simplesmente o meu tamanho, porque a barata foi mais corajosa que eu... Ela conseguiu correr em meio ao seu medo, enquanto eu, mesmo tendo milhares de vantagens sobre ela, também quis correr, mas me sentia petrificado. Porque ainda que você tenha me feito acreditar no contrário, eu estou sozinho. Por um impulso consegui matar minha adversária barata, mas com as luzes apagadas, enquanto o corpo dela jazia inerte no chão, o meu corpo jazia trêmulo na cama diante da solidão, clamando pela piedade do sono em meio às lágrimas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário