Sempre deixei o amor me morder. Mesmo que efêmero. Mesmo que
improvável. Mesmo que mínimo. Desarmava qualquer mudez do outro para atingi-lo. Não era
de espera, de estratégia, de calma. Eu era de amar demais.
O medo empurra o amor pra
longe. É um freio na felicidade. O medo é como dois cadarços amarrados, te
impedindo de continuar. A chance amordaçada de pegar a rua do meio e mudar pra
sempre o rumo. O medo embaralha o foco. Remove a graça da vida. Com medo,
tudo é apenas sobrevivência.
Mas aí, alguém aparece. E o mundo treme. E nada mais se encaixa.
Sua coragem é demolida.
E você sente medo de quando ele te puxa pra perto. E te acomoda no peito.
Sente medo do que se molda, depois de uma promessa. E mais medo chega, porque o
amor dele é mutante e machuca demais. Porque ele se borda no corpo de outras,
do mesmo modo que dorme no seu. Você sente medo da maneira como ele te olha, à
medida que a noite emudece. E medo de amá-lo, além do seu limite. Porque é
possível.
É provável.
Então, você percebe que se transformou em medo – ou o medo te
tomou. E tudo fica até tranquilo. Porque
ele prorroga o sofrimento. É um Prozac com menos química, mais sonolência. O medo acarinha o teu cabelo e te
faz dormir mansa. Pensamentos caóticos não vão te desequilibrar. O medo é super
protetor e prefere tua solidão ao teu choro.
Por mais que tentemos matar o medo, ele se aperta pra caber no
coração. Vira uma demonstração que damos ao outro de nossas experiências.
Um dia, você sente falta de não ter medo, porque
olhou pra ontem e compreendeu que ele foi seu único companheiro.
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